Durante milénios o Homem procurou criar meios de protecção das condições da Natureza, as formas primitivas de habitação eram executadas com os materiais a que tinha recurso no local e tinham como função essencial proteger os seus ocupantes das condições adversas do exterior.
Por exemplo, no Antigo Egipto (cerca de 3100 – 30 a.C.) podemos encontrar fachadas de Templos com reduzidas aberturas de vãos, em alguns casos aberturas feitas de lajetas de pedra como uma grelha que filtrava a luz. Estes edifícios caracterizavam-se também por terem uma grande espessura das paredes em pedra, que armazenam calor durante o dia e o libertam de noite, reduzindo assim as grandes amplitudes térmicas sentidas no deserto devidas à grande intensidade da radiação solar (Cardim, 1994).
Encontramos também nas civilizações antigas, como por exemplo na Antiga Grécia, a utilização da radiação solar para iluminação e aquecimento de uma forma intencional, desde o planeamento urbano até à orientação das fachadas e à penetração da luz nas habitações.
Na civilização romana, através do desenvolvimento do arco, da abóbada meio-cilíndrica e da cúpula semi-esférica, foi possível proporcionar nas fachadas vãos maiores e espaços mais amplos no interior dos edifícios (Cardim, 1994).
A iluminação natural no período Gótico foi tida como elemento principal da Arquitectura, sendo utilizada nos edifícios religiosos para jogos de luz que pretendiam realçar as formas arquitectónicas e o simbolismo do espaço.
Em Portugal, sobretudo nas zonas rurais a Sul do país, encontramos ainda hoje exemplos de construções executadas com materiais vernaculares, como por exemplo, as construções com paredes de alvenaria de taipa e adobe. A construção em taipa terá surgido à cerca de 2.500 anos em Portugal nas zonas com abundância em terra barrenta. Embora em Portugal a sua construção tenha sido abandonada nos anos cinquenta, começa a ressurgir actualmente com a arquitectura da terra, destacando-se a importância na construção com materiais tradicionais e no grande valor para o património cultural (Pinho, 2000).
Este tipo de construção possui um bom desempenho ambiental, adequado às exigências funcionais do espaço rural da época, pela grande inércia térmica proporcionada pela grande espessura das paredes, para além de se tratar de um material composto por elementos naturais que não recorre a fontes de energia não recuperável, utilizando apenas a energia da radiação solar.
Com o desenvolvimento na Revolução industrial apareceu um novo tipo de arquitectura nas cidades, com materiais como o ferro e o aço. As fachadas deixaram de ser os elementos estruturais fundamentais para o edifício, permitindo assim uma redução da espessura da parede e a abertura de grandes vãos envidraçados.
Ao contrário das grandes fachadas maciças estas tinham pouca massa térmica. Os grandes vãos envidraçados proporcionavam de luz solar mas também fragilizavam o edifício em termos de estabilidade térmica no seu interior, isto é, maiores perdas de calor no Inverno, e sobreaquecimento (e.g. devido ao “efeito de estufa”) no Verão.
No início do séc. XX, o Movimento Moderno procurava dar resposta ao conceito de uma arquitectura económica, acessível a todos, de rápida construção, funcional e com uma maior relação com a natureza. Alguns dos exemplos desta conceptualização modernista são os projectos urbanísticos e arquitectónicos de Corbusier, Alvar Alto e Frank Lloyd Wright, cujas principais preocupações ambientais eram a implantação do edifício, o desempenho das fachadas, a utilização dos materiais e a efectividade das necessidades de iluminação natural. Um exemplo significativo, da autoria de Frank Lloyd Wright, é a casa Jacobs II, construída em 1949 e denominada de “Hemiciclo Solar” (Jones, 1998).
E até as “torres de vidro” de Mies Van Der Rohe e Walter Groupius são exemplos de preocupação ambiental, cujos objectivos eram a melhoria da iluminação natural, ventilação e proporcionar uma vista para o exterior (Jones, 1998).
No entanto, o conceito inicial do movimento modernista perverteu-se com a evolução das tecnologias de climatização, como o AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado) e com a iluminação artificial. A aplicação destes sistemas nos edifícios permitiu aumentar a profundidade dos edifícios e por conseguinte diminuiu a área passiva do edifício. Como nesta altura a energia era barata e não era relevante o problema ambiental, as funções ambientais, nomeadamente a temperatura e a luz, ficaram entregues aos técnicos de AVAC e iluminação. E a ênfase das preocupações do Arquitecto passam para outros aspectos, como a funcionalidade espacial, a estética e as técnicas construtivas, surgindo nesta altura o Estilo Internacional, cujo conceito é na sua essência contrário à necessidade de contextualização da arquitectura à envolvente natural (Randall, 1999).
Durante este período deu-se um desenvolvimento tecnológico dos materiais utilizados na construção como o ferro, o aço, o betão e outros elementos, que foram sendo substituídos pela montagem de elementos pré-fabricados, como por exemplo o alumínio. As primeiras formas construídas com esta inovação tecnológica ficaram conhecidas como a “fachada de cortina”. Os problemas que derivaram da aplicação deste sistema foram vários, desde a correcta aplicação dos vedantes em obra até à durabilidade dos materiais, e ao problema do comportamento térmico no interior dos edifícios.
No inicio dos anos 60, a Industria da construção nos Estados Unidos desenvolveu painéis pré-fabricados de fachadas, de modo a melhorar os constrangimentos provocados pela instalação dos sistemas individuais de alumínio extrudido e vidro. O sucesso desta aplicação baseou-se numa filosofia que consistia na pré montagem dos elementos e posterior colocação em obra, o que iria melhorar a estanquidade da fachada contra as forças ambientais exteriores, e que no entanto permitia a entrada de ventilação dirigida através de câmaras de pressão; este sistema deu origem às chamadas “fachadas ventiladas”. Apesar da intenção original do conceito ser a promoção da ventilação passiva, e apesar de terem uma maior estanquidade, estas fachadas serviam, e servem ainda na maioria dos casos, apenas como uma zona “tampão” térmica e acústica, mantendo porém uma área envidraçada exagerada, e sendo em muitos dos casos climatizadas artificialmente.
A tecnologia e os materiais da construção de fachadas têm evoluído, no sentido de servirem para protegerem o interior dos edifícios das condições climatéricas exteriores.
Contudo há que saber integrar diferentes necessidades, por exemplo a utilização de revestimentos reflexivos nas áreas envidraçadas, utilizadas para reduzir o encandeamento e para a redução dos ganhos, mas simultaneamente reduzem os níveis de iluminação natural no interior aumentando a necessidade de iluminação eléctrica e consequentemente o consumo energético.
Com a crise do petróleo do início dos anos 70, iniciaram-se investigações sobre a minimização dos consumos energéticos nos edifícios. Victor Olgyay foi dos mais importantes pioneiros da formalização do projecto solar bioclimático e da integração do design bioclimático na área da arquitectura (Olgyay, 1970). Á questão, essencialmente económica, da redução do consumo de energias convencionais (petróleo, carvão) veio a sobrepor-se anos mais tarde a questão ecológica, nomeadamente de impacto ambiental. A poluição atmosférica causada pelo consumo de energias não renováveis veio a originar graves problemas de aquecimento global, com consequências funestas para a humanidade e o meio natural.
A fachada é a pele do edifício, através da qual se estabelece o diálogo entre o exterior e o interior. A relação da fachada com as condições exteriores, como a luz solar e o clima, é o primeiro factor de importância na construção sustentável.
O futuro do projecto dos edifícios passa necessariamente pelo uso de estratégias passivas em fachadas, por forma a minimizar os consumos de energia e manter níveis adequados de conforto. Os avanços tecnológicos necessitam de uma colaboração constante entre os conhecimentos da engenharia, dos especialistas de sistemas, dos arquitectos e dos serviços de manutenção, por forma a assegurar aos ocupantes uma elevação dos níveis de conforto, uma flexibilidade do espaço, e em particular, um custo global eficiente considerando o ciclo de vida do edifício.
A elaboração de um bom projecto de arquitectura bioclimática ou construção sustentável, deve passar pela compreensão e estudo da sua história, pois esses edifícios cumpriam as exigências de conforto através do desenho arquitectónico antes da existência de sistemas artificiais de climatização e iluminação. Num próximo artigo, aborda-se a relevância histórica da zona do Chiado para a cidade e a descrição das tipologias de design das fachadas nesta zona.
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