A origem do Chiado
A urbanização desta zona fez-se no séc. XIV em função da muralha mandada construir pelo Rei D. Fernando cuja porta, a de Santa Catarina, uma das mais importantes portas da muralha, se situava onde actualmente é o Largo do Chiado. No séc. XVI com o loteamento do Bairro Alto e a formação das paróquias do Loreto e de Santa Catarina, assistiu-se à expansão da zona ocidental extramuros, esta zona era habitada por gente humilde mas com o aparecimento de novas actividades ligadas ao comércio acabou por ser urbanizada e o perfil social e económico dos seus habitantes foi-se modificando. A importância social e económica da zona do Chiado para a cidade de Lisboa começa-se a verificar a partir do séc. XVII com a instalação de modistas e confeitarias atraindo a aristocracia da capital e visitantes estrangeiros.
A reconstrução da baixa de Lisboa após o terramoto
No dia 1 de Novembro de 1755 Lisboa era sacudida por um violento sismo que deflagrou num incêndio com enormes proporções que devastou a baixa da cidade, centro político, comercial e económico da capital, da catástrofe resultaram cerca de 10.000 mortos, 2.000 fogos destruídos e mais de 12.000 casas com graves estragos.
Desta catástrofe resultou porém um plano de reconstrução urbanístico e arquitectónico que viria a transformar o centro da capital do país. O estudo da situação e a proposta de soluções técnicas mais adequadas é incumbida a Manuel da Maia, engenheiro militar do reino, um homem com experiência de vida, rigoroso e prático. O plano é então aprovado por Marquês de Pombal, na altura Sebastião José de Carvalho e Melo, secretário de Estado, e posto em execução pelo Rei D. José em 1758. O Marquês de Pombal tinha estado em contacto com o Iluminismo europeu em Londres e Viena aliando os seus conceitos com os técnicos que elaboraram o Plano, transformando a baixa de Lisboa num exemplo significativo de uma cidade do Iluminismo. (José-Augusto França, 1989).
(Figura retirada de Arquivo fotográfico, http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt)
As primeiras medidas tomadas logo após o sismo revelaram um controle imediato da situação que era necessária para a aplicação do plano de reconstrução. Estas medidas consistiam no levantamento com descrições exactas das várias casas, ruas e praças, os nivelamentos topográficos e a proibição por decreto que impedia qualquer construção nova.
A análise de todas as hipóteses de reconstrução é iniciada por Manuel da Maia organizando-se três equipas de trabalho que desenvolvem a solução entretanto decidida apresentando 6 planos possíveis. Os principais problemas a serem resolvidos diziam respeito principalmente aos dados da cidade antiga e as relações entre as praças e a localização das Igrejas. O plano escolhido foi o do capitão Eugénio dos Santos que explorava e clarificava a relação entre as praças principais e as ligações entre as colinas e o rio. Para as várias tarefas que eram necessárias realizar foi fundado um gabinete próprio a Casa do Risco das Obras Públicas. (José-Augusto França, 1989)
A Casa do Risco era composta por arquitectos-engenheiros com forte formação militar por isso as decisões que eram tomadas tinham um grande aspecto rigoroso e prático. Para a chefia da Casa do Risco foi escolhido Eugénio dos Santos ajudado por Carlos Mardel que depois o substituiria na direcção das obras até à sua morte. A equipa da Casa do Risco constituída por Eugénio dos Santos, Mardel e Poppe, com A. C. Andreas e J. D. Poppe, traçavam a nova forma urbana elaborando novas demarcações dos terrenos e traçando infra-estruturas viárias e sanitárias. O traçado dos eixos viários e as hierarquias das praças, ruas e quarteirões tinham como objectivo “a liberdade do ar e da luz” definindo também em desenho a concepção da envolvente exterior dos edifícios, com cortes transversais e desenhos da fachadas. As soluções propostas tinham em conta aspectos como a salubridade, a segurança contra o risco de propagação de incêndios, causa pela qual foram destruídos a maior parte dos edifícios, e a segurança contra o risco de sismos. (José-Augusto França, 1989)
Em 12 de Maio de 1758 foi estabelecido por decreto o novo plano de reconstrução da baixa lisboeta definido as obrigações e direitos dos proprietários dependendo de cada caso e acompanhados de desenhos elaborados pela Casa do Risco. O desenho do Plano em quadrícula definida pelas ruas e quarteirões nela inseridos adaptava-se à topografia do terreno mantendo alguns quarteirões que pertenciam a Conventos, como por exemplo o Convento do Espirito Santo ou o de São Francisco, estabelecendo uma hierarquia de ordenamento urbano com base nas larguras das ruas. Esta hierarquia apresentada no Plano estabelecia a configuração das ruas principais, secundárias e travessas definindo a sua largura, passeios laterais e guardas, fazendo-se acompanhar do desenho modular das fachadas dos quarteirões em função de cada tipo de rua ou praça. Identificando-se nos cortes transversais a relação da fachada com cada tipo de rua definindo a profundidade, o número de pisos e a altura do quarteirão. (Maria Helena Ribeiro dos Santos, 2000)
No Chiado seguem-se as regras propostas para a zona da Baixa Pombalina, a geometrização dos traçados das ruas e dos quarteirões manteve-se embora ajustada à grande inclinação da encosta e a alguns quarteirões extensos pertencentes a Conventos. Algumas das pequenas ruas foram substituídas por edifícios em alinhamento com os quarteirões permanecendo o eixo central do Chiado anterior ao terramoto, a Rua da Porta de Santa Catarina conhecida actualmente por Rua Garrett. (José-Augusto França, 1989)
(Figura retirada de João Pedro Ribeiro, Plantas Topográficas de Lisboa, Atlas de Lisboa, 1993)
No entanto as pressões das encomendas particulares da nova população do Chiado, a burguesia ascendente com um perfil social e económico diferente, irão introduzir novos valores no Plano original e criar uma nova tipologia de palacete que retoma os valores barrocos do eixo portal/Janela e a introdução de alguns elementos decorativos nas fachadas. Para além da criação de uma nova dinâmica na malha urbana com a introdução de pequenos largos como o do Teatro São Carlos e da casa nobre do Barão de Quintela na Rua do Alecrim. Esta zona do Plano representa a adequação e a resistência por parte da elite social lisboeta perante os valores da Baixa Pombalina. (Inventário do Património Arquitectónico)
(Figura retirada de Arquivo Municipal do Arco do Cego, http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/)
Ao longo dos tempos foram surgindo os hotéis, os cafés, os restaurantes e as livrarias transformando o Chiado na zona mais popular, concorrida e elegante da capital. A dinâmica cultural do Chiado intensifica-se com a construção do Teatro de S. Carlos, surgem novos cafés, novas livrarias, clubes sociais, novos teatros e mais tarde cinemas. Até aos anos 60 do séc. XX o Chiado era o centro da cultura e de lojas de requinte da cidade de Lisboa, vindo a partir dessa data a perder grande parte dos seus habitantes para a ocupação de escritórios e comércio. (História da Junta de Freguesia dos Mártires)
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